Diferentes níveis de percepção da realidade

Semana passada, estava conversando com uma colega…

… e escutei uma história de tragédia — e de superação.

Uma colega de faculdade (e amiga) dessa (minha) colega de trabalho teve o pai assassinado na sua presença. E teve o desgosto de ver o patrimônio da família ser dilapidado pela mãe (e pelo seu novo companheiro).

Veio para Palmas, por ter sido aprovada no PROUNI (foi o que eu entendi), e foi ficando.

Concluiu a faculdade de Direito.

Foi aprovada no Exame de Ordem.

Chegou a exercer a advocacia. Contudo, optou pelo serviço público.

Hoje, é analista jurídico em um Órgão/Poder; mas não está satisfeita, especialmente porque não consegue vislumbrar a realização da função social representada pelo Órgão/Poder.

E se frustra por não conseguir imprimir o poder transformador com a energia do seu esforço físico.

Diz para minha colega que vai estudar para conseguir aprovação em outro cargo — de analista, mas agora em outro órgão/poder.

Minha colega disse, nesse interlúdio ‘laboral’, que tentou dar-lhe uma dura, tipo: ‘você já é analista, e não está satisfeita. Passar em outro cargo de analista vai deixá-la frustrada da mesma forma. Você tem que estudar para aprovação em outro tipo de cargo”.

Quando falou isso, opinou (mais ou menos assim) que:

— Puxa, eu pego no pé dela, porque eu não tenho (ao menos agora) quem pegue no meu, e isso me faz falta. Quer dizer, eu sei que tenho que estudar, e continuar estudando; mas ouvir alguém dizendo isso é diferente. Parece que o choque de realidade é outro.

É claro que eu dei os meus palpites. (Eu tenho a mania de dar palpites sobre tudo.)

Mas fiquei pensando: pode alguém saber da realidade, e precisar de alguém que lhe mostre-a? Como se o que estivesse vendo não fosse exatamente a realidade, ainda que tivesse o mesmo contorno que a ‘desconhecida’?

Parece-me que sim.

Esse jogo de palavras — e de ideias — me faz lembrar a Alegoria da Caverna (de Platão?).

Pois bem:

Nesse contexto, como explicar que alguém tenha consciência de que o panorama que consegue ver não é panorama nenhum, mas simplesmente a projeção borrada do panorama, ou de uma outra projeção borrada do panorama?

Como, numa hipótese análoga, definir que alguém com esse nível de percepção ainda esteja dentro da caverna?

O duro é que isso faz todo o sentido para mim. (E, ah, eu estou no sexto subsolo da caverna! Tenho certeza!)

(Continua?)

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