Arrumar a casa

Há tempos vinha planejando arrumar minha casa (principalmente o meu quarto); mudar os móveis de lugar, inspecionar os papéis, verificando o que realmente é importante guardar, verificar as traquitanas ainda úteis, essas coisas; e descartar alguns dos móveis, para a (futura) chácara de lazer.

Todavia, a chácara de lazer não poderia recepcionar meus móveis enquanto não fizéssemos, lá, algumas intervenções — que nunca saíam do papel (aliás, nunca iam sequer ao papel).

Então, a tal reforma tinha de sair antes das obras na chácara. Saiu — nas coxas, é verdade, mas saiu.

Parece que o quarto ficou maior.

Modorra

Ele ficava ali (Ali?).

O dia inteiro.

Naquela imobilidade.

Tanta coisa para fazer.

O trabalho…

Os cuidados pessoais…

A própria higiene pessoal!

Os projetos.

Os sonhos.

Mas não tinha energia para sair do marasmo, do transe.

— Transe?

Talvez.

Era uma inamovibilidade maior do que a vontade de agir.

Do que a necessidade.

Planejava (!): “Vou dar um basta! Me mexer, realizar, fazer alguma coisa. Tanta coisa pra fazer!”

— Sim! Afinal de contas, é isso que conta. Fazer alguma coisa, qualquer coisa, ter a certeza de que algo foi feito, o que quer que tenha sido, é o que dá satisfação. A endorfina. Ou será a adrenalina?

Então…

Surge a hora planejada. O momento decisivo. A hora certa. Aquele instante. Aquele suspiro, que distingue o antes do depois, do agora mesmo. O piscar de olhos!

— Ihh…

A mofina é maior do que a vontade…

Que lástima!