O cachorro sem dono

Esses dias, conversando com minhas irmãs, recordamos de um daqueles casos que até parecem piada.

Minhas irmãs e eu morávamos em um barraco de madeira, sem muro, nos limites do Aureny I e Aureny II (1992-1994).

Certa manhã, eu estava lavando os pratos, e percebi um cachorro ainda filhote, deitado sob o tanque (que, assim como o banheiro, foi construído/instalado fora do barraco), e tentei enxotá-lo dali.

Não que eu me incomodasse com sua presença, mas uma de minhas irmãs tem pavor de cachorros (trauma da infância) e por isso em tentei expulsá-lo dali.

O filhote, que não tinha para onde ir, reagiu, e acabou me mordendo. Coisa pouca, nem chegou a doer. Mas mordeu.

Quando eu contei para as irmãs, elas ficaram preocupadas, e recomendaram que eu tentasse tomar a vacina antirábica.

Na manhã seguinte, me dirigi ao Postinho de Taquaralto — a pé — para tomar a vacina.

Não havia vacina, ou as técnicas não estavam preparadas para cuidar de um caso dessa magnitude. Resistiram a princípio, e depois me encaminharam para uma consulta com um médico.

Na mesma linha das técnicas, o médico falou que a vacina era muito radical, e era melhor eu esperar. Enquanto isso, prestasse atenção no cachorro.

Quando eu falei que era um cachorro de rua, sem dono, me recomendou que cuidasse dele.

Cheguei em casa chateado, e contei essa história às minhas irmãs. Fui motivo de risadas: caramba, o cachorro morde você, e quem merece cuidados é ele!

Tive que rir também.

Ah, o cachorro?

Desapareceu.

Vermes!

Vermes por toda parte!

Sim, em sentido figurado.

Na política.

No dia-a-dia. Sim, também no dia-a-dia. Foi-se o tempo em que se acreditava que os políticos seriam perversos, devassos, e teriam outras taras, mas o povo seria íntegro.

Não, quando as instituições se corrompem, todo o organismo (a sociedade) adoece.

Está um caos.

E, como o espírito está deprimido, os vermes aproveitam.

O blog, que estava às moscas (insetos repugnantes), de uns tempos foi infestado por vermes (worms, spams, coisa assim).

Cheguei a pensar que o post tão visitado pela praga tinha algum texto que os atraía.

Pareceu-me improvável. Contudo, não entendo muito de websemântica, essas coisas.

Mas quem sabe se eu postar alguma coisa…

Bem, aí vai.

Ainda não fui vencido. Vou reagir. Estou reagindo.

As bestas-feras estão soltas

Pois é.

Condução coercitiva de blogueiro-ativista de esquerda, que teria repassado informações sigilosas para o ex-presidente acusado de corrupção (ainda não provada, apesar dos esforços titânicos e tirânicos).

Posse na corte máxima de notório plagiador, violento, achacador.

Reforma da previdência e da legislação trabalhista, sob o pretexto de tornar o país competitivo.

Investigação espalhafatosa da cadeia de processamento e exportação da carne.

Votação de projeto de lei autorizando a terceirização irrestrita dos contratos de trabalho.

E agora, por fim, a demonização dos correios.

O fim do mundo chegou.Mas pode piorar: como se diz, O fundo do poço tem m alçapão.

Tloc tloc tloc

Lembro-me agora (e recorrentemente) de uma crônica de Drummond.

Na crônica, ele precisava escrever algo para publicar no jornal.

Mas as ideias não apareciam. O texto não fluía. Tentava se concentrar, se desesperava, e nada.

Quanto mais insistia, mais disperso ficava. E na dispersão, acabava reparando no movimento da rua (será que morava em apartamento?).

E uma garota passou a chamar-lhe a atenção: usava tamanquinhos. E passeava tranquilamente na rua, meio que desfilando.

Nada de surgirem as ideias para a crônica. E a garota desfilando com os seus tamancos marcando o passo: tloc tloc tloc.

E o desespero crescendo. E a garota desfilando tloc tloc tloc (será que estava de paquera? parece ser um bom motivo para desfilar um “look” modernoso, com tamancos ruidosos, e provavelmente chamativos, coloridos talvez).

E nada de texto, enredo, leitmotiv, drama, comédia, e essas coisas. e a garota desfilando tloc tloc tloc.

Não sei, mas parece que Drummond via inocência na garota (tomara), mas desfilar assim, por horas a fio, é estranho?

Ou será que o tempo se arrastava por conta da angústia do poeta/cronista?

Será?

Pode ser.

O fato é que a crônica saiu. Diferente. Leve.

Falta de assunto também é assunto, às vezes.

Escrever…

Pois é, acessei o blog para moderar um comentário.

Parece que foi mais um spam, embora me parecesse técnico.

Bem, e aqui estou — escrever!!

Mas escrever o quê??

Me veio à memória de uma crônica de Drommond: “Hellip; e a garota caminhando, tloc, tloc…”.

Mas sabe, eu não sou Drommond. Sou simplesmente um sertanejozinho disperso, meio preguiçoso.

Bem, vamos lá.

O trabalho está se acumulando na minha mesa.

Quer dizer, não está-se acumulando — Na verdade, não está fluindo. O que chega por agora, sai. Mas alguns de dias atrás, permanecem, teimosamente. Que inferno!

Porém, retomando Sartre, o inferno são os outros. Logo, para os outros o inferno também pode ser eu. Caramba!

Ok, estou enrolando. O inferno quem criou fui eu. E tenho que administrá-lo, antes que ele me devore.

Vai passar!

Tábuas esparramadas no meu quintal, e a ideia de, usando-as, construir uma mesinha, uma caixa de ferramentas, um armário, e que tais. Talvez criar algo de marcheteria.

Comprei formões, plaina, tupia, serrote, serra tico-tico… e nada.

Disse para mim agora à noitinha: amanhã, viu!

É, quem sabe?

Como criar um chefe?

É simples: basta umas colheradas (muitas!!!) de vaidade, uma boa dose de frescura, e: Voilà!

Taí o CHEFE!

Gostou?

Eu, não.

Estou experimentando este ‘manjar’.

E como diz aquele dito popular, ‘quem nunca comeu mel, quando come se lambuza’.

É inteligentíssimo, fresquíssimo, modestíssimo, e por aí vai.

E tão preocupado com a coisa pública!!!!!

Virada

Às vezes eu penso se as mudanças são realmente boas coisas, ou se a vida devia ser aquela previsibilidade.

Sério. Me causa uma angústia a possibilidade de mudanças drásticas. A simples possibilidade de mudanças. Os indícios de mudança iminente me dão cólicas.

Tudo bem, eu já ouvi que os chineses têm o mesmo ideograma para descrever ‘crise’ e ‘oportunidade’.

É, eu mesmo já repeti isso.

Sim, eu desejei mudanças no status quo. E desejo-as ainda.

Mas, caramba! Eu estou ansioso! Tenso!

Pérolas reacionárias.

Na fila do supermercado.

Ontem, saí para comprar leite para a minha mãe. Leite desnatado.

Aproveitei para comprar mais coisas, e já estava chateado quando enfim cheguei à fila dos caixas.

Como sempre, um zigue-zague para escolher em qual o caixa eu me despacharia. Perdi posição nas três filas não preferenciais disponíveis.

Fazer o quê? Sou assim, disperso.

E o ‘diálogo’ entabulado na fila à esquerda me chamou a atenção.

Um ‘gaúcho’, que antes eu cheguei a pensar se tratar do dono de um restaurante que frequento às vezes, estava discorrendo sobre sua ‘civilidade’.

Ouvi, como todos ouviram, pérolas como: “não tem ninguém que queira trabalhar numa fazenda“; “recebem a bolsa-família, e ficam na vagabundagem“; “mas essa mamata vai acabar loguinho”.

Me deu vontade de prolongar o ‘diálogo‘ com o ‘gaúcho‘, mas como de regra me reprimi.

Ainda assim, as perguntas vieram bem claras: “e o senhor, aceita trabalhar em fazenda? digo, fazer o trabalho pesado de fazenda?” “ah, então o senhor a herdou?” “o senhor está disposto a pagar para os ‘candidatos‘ valor equivalente ao da bolsa-família?”; “topa trabalhar em troca do equivalente à bolsa-família? eu tenho lote pra ser capinado“; “mamata pra quem?”.

Bom, dizem que não é saudável discutir com reacionário.

Mas a frustração persistiu.

Ora, bolas!

De qualquer forma, minha mente crédula me bombardeia incessantemente com perguntas incômodas:

— Há quem realmente deixe de trabalhar pela bolsa-família?

— Quanto paga esse benefício, atualmente? O salário mínimo? Certeza?

— Sério que tem gente que se satisfaz com o salário mínimo? Um salário mínimo para cinco, seis pessoas? Ou até mais?

— Se você, fazendeiro, ou cidadão classe-média, não encontra quem esteja disposto a fazer para você o trabalho penoso pelo tanto que você se propõe pagar, então o problema é da bolsa-família?

— E se eu defendesse que o problema é justamente a miséria que tipos como você se propõe pagar pelo trabalho que você não se anima a realizar? Isso quando paga, tantas são as notícias de trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravos — coincidentemente, fortemente concentrados no campo.

E aí. Vamos discutir por que não se encontram com facilidade trabalhadores braçais informais para as lides das fazendas? E ‘empregadas‘ domésticas, idem?

Se não está disposto, ó reacionário, aqui vai um conselho bem ‘nordestino‘: boca-de-siri, folgado!

Oi e Tchau!

Só pra lembrar: segunda-feira saio atrasado para o trabalho (coisa rara!).

E lá na praça, já bem perto da repartição, ouvi:

Começou a temporada de propaganda política, partidária, eleitoral!

Era um só carro de som (que eu pude distinguir de onde estava).

Mas estava lá.

Nos aporrinhando.

Dia memorável!

Hoje foi eleito pela Assembleia Legislativa o novo Governador do Tocantins.

Um acontecimento e tanto! Parou o Tocantins! (Ih! foi mal, hoje é domingo, rs)

Como esperado, o Presidente da Assembleia quando da “dupla” renúncia foi o consagrado.

Nada de extraordinário, pois essa pessoa era (e sempre foi) a escolha do RENUNCIANTE.

Mas ter de ouvir um deputado escrutinador (cretinador?) abrir a boca para denunciar a “indignação dos adversários em proveito próprio” foi de lascar.

Ora, pombas! Qual o parlamentar tocantinense (fiquemos por aqui) que inicia algum projeto em benefício de terceiros? Faça-me o favor!