Fotografias e ‘fotografando’

Gosto de fotografias.

De fotografar, não gostava. Fotografava, mas sem maiores pretensões.

Em 2010 (quanto tempo, hein?), passei férias em Córdoba, Argentina.

Lá, eu saquei algumas fotos, de paisagens que me despertaram alguma curiosidade.

Entretanto, não tomei cuidado com os detalhes: a câmera não tinha sido configurada devidamente, e as fotos foram datadas como se sacadas três ou quatro anos antes. Uma lástima.

Deixei a câmera guardada em uma gaveta por anos. Já em 2018, resolvi ressuscitá-la. Pus pilhas nova, e saí por aí fotografando. Saíram umas fotos até que simpáticas. Mas, outra vez, a data se atravessou no caminho: era como se eu tivesse fotografado no futuro, mais de um ano depois da data em que realmente ocorreu. Puxa vida!

Bem, agora eu resolvi expor minhas criações, sem maiores pretensões.

São fotos sacadas desde uma câmera portátil, ou de um celular.

Fotos simples.

Kundera e Kafka

Cheguei hoje ao trabalho, ao que parece, mais cedo que o costume.

E foi inevitável me lembrar de Milan Kundera, especialmente de seu livro Risíveis Amores.

Um de seus contos fala de um jovem Checo, egresso da universidade, que estava buscando uma colocação (emprego) em uma região rural do país.

Encantado por uma garota da região, que se dizia cristã, resolveu vestir a personagem de um cristão em um país comunista e laico (ateu) — estratégia para conquistar a sua musa.

No enredo, acaba se envolvendo com a líder política local — uma mulher feia e sistemática.

No desenrolar da história, essa líder, ateia convicta, acaba se revelando conhecedora dos rituais cristãos, e concorde em deles participar (em segredo, é óbvio).

Pois bem. Na Secretaria da Educação, Juventude e Esportes — e em particular na Assessoria Jurídica — estamos vivendo dias tensos, num universo coalhado de fofocas. Nesse universo, a Assessoria Jurídica é desleixada, desidiosa e indelicada. Uma das maiores críticas é quanto ao nosso horário, que seria de seis horas ininterruptas, mas que, dizem os boatos, acabam sendo entregues menos de cinco.

É. E eu cheguei antes da uma hora. E nem bem cheguei, já tinha colega se despedindo.

Lembrando que na segunda-feira, ansioso, cheguei ao trabalho um pouquinho antes das oito, e encontrei somente duas colegas

Enfim…

O cachorro sem dono

Esses dias, conversando com minhas irmãs, recordamos de um daqueles casos que até parecem piada.

Minhas irmãs e eu morávamos em um barraco de madeira, sem muro, nos limites do Aureny I e Aureny II (1992-1994).

Certa manhã, eu estava lavando os pratos, e percebi um cachorro ainda filhote, deitado sob o tanque (que, assim como o banheiro, foi construído/instalado fora do barraco), e tentei enxotá-lo dali.

Não que eu me incomodasse com sua presença, mas uma de minhas irmãs tem pavor de cachorros (trauma da infância) e por isso em tentei expulsá-lo dali.

O filhote, que não tinha para onde ir, reagiu, e acabou me mordendo. Coisa pouca, nem chegou a doer. Mas mordeu.

Quando eu contei para as irmãs, elas ficaram preocupadas, e recomendaram que eu tentasse tomar a vacina antirábica.

Na manhã seguinte, me dirigi ao Postinho de Taquaralto — a pé — para tomar a vacina.

Não havia vacina, ou as técnicas não estavam preparadas para cuidar de um caso dessa magnitude. Resistiram a princípio, e depois me encaminharam para uma consulta com um médico.

Na mesma linha das técnicas, o médico falou que a vacina era muito radical, e era melhor eu esperar. Enquanto isso, prestasse atenção no cachorro.

Quando eu falei que era um cachorro de rua, sem dono, me recomendou que cuidasse dele.

Cheguei em casa chateado, e contei essa história às minhas irmãs. Fui motivo de risadas: caramba, o cachorro morde você, e quem merece cuidados é ele!

Tive que rir também.

Ah, o cachorro?

Desapareceu.

Vermes!

Vermes por toda parte!

Sim, em sentido figurado.

Na política.

No dia-a-dia. Sim, também no dia-a-dia. Foi-se o tempo em que se acreditava que os políticos seriam perversos, devassos, e teriam outras taras, mas o povo seria íntegro.

Não, quando as instituições se corrompem, todo o organismo (a sociedade) adoece.

Está um caos.

E, como o espírito está deprimido, os vermes aproveitam.

O blog, que estava às moscas (insetos repugnantes), de uns tempos foi infestado por vermes (worms, spams, coisa assim).

Cheguei a pensar que o post tão visitado pela praga tinha algum texto que os atraía.

Pareceu-me improvável. Contudo, não entendo muito de websemântica, essas coisas.

Mas quem sabe se eu postar alguma coisa…

Bem, aí vai.

Ainda não fui vencido. Vou reagir. Estou reagindo.

As bestas-feras estão soltas

Pois é.

Condução coercitiva de blogueiro-ativista de esquerda, que teria repassado informações sigilosas para o ex-presidente acusado de corrupção (ainda não provada, apesar dos esforços titânicos e tirânicos).

Posse na corte máxima de notório plagiador, violento, achacador.

Reforma da previdência e da legislação trabalhista, sob o pretexto de tornar o país competitivo.

Investigação espalhafatosa da cadeia de processamento e exportação da carne.

Votação de projeto de lei autorizando a terceirização irrestrita dos contratos de trabalho.

E agora, por fim, a demonização dos correios.

O fim do mundo chegou.Mas pode piorar: como se diz, O fundo do poço tem m alçapão.

Tloc tloc tloc

Lembro-me agora (e recorrentemente) de uma crônica de Drummond.

Na crônica, ele precisava escrever algo para publicar no jornal.

Mas as ideias não apareciam. O texto não fluía. Tentava se concentrar, se desesperava, e nada.

Quanto mais insistia, mais disperso ficava. E na dispersão, acabava reparando no movimento da rua (será que morava em apartamento?).

E uma garota passou a chamar-lhe a atenção: usava tamanquinhos. E passeava tranquilamente na rua, meio que desfilando.

Nada de surgirem as ideias para a crônica. E a garota desfilando com os seus tamancos marcando o passo: tloc tloc tloc.

E o desespero crescendo. E a garota desfilando tloc tloc tloc (será que estava de paquera? parece ser um bom motivo para desfilar um “look” modernoso, com tamancos ruidosos, e provavelmente chamativos, coloridos talvez).

E nada de texto, enredo, leitmotiv, drama, comédia, e essas coisas. e a garota desfilando tloc tloc tloc.

Não sei, mas parece que Drummond via inocência na garota (tomara), mas desfilar assim, por horas a fio, é estranho?

Ou será que o tempo se arrastava por conta da angústia do poeta/cronista?

Será?

Pode ser.

O fato é que a crônica saiu. Diferente. Leve.

Falta de assunto também é assunto, às vezes.

Houve crime?

 

Grande parte dos juristas (e muita gente crédula) está convencido de que sim.

Qual foi o crime?

Ninguém sabe ao certo; mas todos os crédulos, e os notáveis, têm uma tese: as pedaladas configuram crime de responsabilidade, afirmam uns; não são só as pedaladas, asseveram outros (o que contraria a qualquer libelo mais qualificado, que tem de caracterizar pormenorizadamente a conduta criminosa, e o crime).

Aqui, me faz lembrar o bordão do MPL (ou seria MBL?): não é só pelos vinte centavos.

Então: “até podemos não saber definir qual(is) foi(ram) o(s) crime(s), mas que houve, houve. CONFIE EM MIM!”

“É, confie em mim, EU sou graduado, estudei (ao contrário daquele apedeuta…). Minha convicção advém do elevado poder de interpretação (que você não tem, provavelmente). Portanto, você não tem alternativa, terá de acreditar em mim.”

E continua o rosário de argumentos — quase todos ad hominem.

Houve crime? Qual foi o crime?

Eu penso que as perorações apresentadas são muito complexas (propositadamente?), e todos os juristas que se dedicam a explicar a tipificação infracional/penal apresentam uma retórica muito empolada. OK, como bacharel em direito não me caberia reclamar da retórica dos juristas, mas tão somente interpretá-la, buscar os fundamentos arrolados, e se possível desconstruí-los.

É verdade, e se eu ainda não o fiz não é possível disfarçar a preguiça.

Contudo, apesar de não mergulhar na hermenêutica jurídica para tentar desconstruir os argumentos, algumas perplexidades se evidenciam: “ah, o julgamento não é jurídico, é político”; “ora, o crime de responsabilidade não é crime stricto sensu”; são as pérolas mais recorrentes.

Ou seriam jabuticabas, e não simplesmente pérolas?

Não, não creio que sejam jabuticabas. Eu sei que o brasileiro (e principalmente o brasileiro de direita, reacionário), é capaz de torcer qualquer linha de argumentação, mas já pude perceber que isso não é exclusividade dos brasileiros; pelo menos argentinos e portugueses são tão capazes da ignomínia quanto os tupiniquim.

Mas enfim, diante dessas pérolas, a única reação possível é uma expressão bem sertaneja: danou-se!

Sim, porque:

1. Em um julgamento jurídico, devem ser observados pelo menos o direito pleno de defesa e o contraditório; em um julgamento essencialmente político isso é garantido?

Aquela pantomima da sessão da Câmara Federal, em um domingo (17 de abril) é prova de que não há qualquer garantia nos tais julgamentos políticos.

2. Alguém ou alguma instituição que pretenda condenar a um cidadão pela prática de um crime tem de demonstrar, inquestionavelmente, que o crime foi praticado. Em outras palavras, não cabe interpretação dos fatos que tipificariam a conduta criminosa; se não for textualmente demonstrado, não cabe a condenação.

Mas e o que dizer de um ilícito que não seja caracterizado como crime? Cabe a interpretação dos fatos e da conduta? Os tais juristas asseveram que sim.

Quer dizer: “para nós, juristas de bem, houve crime. E nós vamos descobrir qual foi, ou quais foram; é questão de tempo”.

Daí decorre o surreal: a subversão do disposto no inciso LVII do art. 5º da Constituição Federal, segundo o qual todos deverão ser considerados inocentes até que uma sentença penal — transitada em julgado — declare o contrário.

Ora, para os destacados juristas, bem assim para os parlamentares, já há uma condenação, a execração, as injúrias, o linchamento enfim.