Kundera e Kafka

Cheguei hoje ao trabalho, ao que parece, mais cedo que o costume.

E foi inevitável me lembrar de Milan Kundera, especialmente de seu livro Risíveis Amores.

Um de seus contos fala de um jovem Checo, egresso da universidade, que estava buscando uma colocação (emprego) em uma região rural do país.

Encantado por uma garota da região, que se dizia cristã, resolveu vestir a personagem de um cristão em um país comunista e laico (ateu) — estratégia para conquistar a sua musa.

No enredo, acaba se envolvendo com a líder política local — uma mulher feia e sistemática.

No desenrolar da história, essa líder, ateia convicta, acaba se revelando conhecedora dos rituais cristãos, e concorde em deles participar (em segredo, é óbvio).

Pois bem. Na Secretaria da Educação, Juventude e Esportes — e em particular na Assessoria Jurídica — estamos vivendo dias tensos, num universo coalhado de fofocas. Nesse universo, a Assessoria Jurídica é desleixada, desidiosa e indelicada. Uma das maiores críticas é quanto ao nosso horário, que seria de seis horas ininterruptas, mas que, dizem os boatos, acabam sendo entregues menos de cinco.

É. E eu cheguei antes da uma hora. E nem bem cheguei, já tinha colega se despedindo.

Lembrando que na segunda-feira, ansioso, cheguei ao trabalho um pouquinho antes das oito, e encontrei somente duas colegas

Enfim…

O General

Era uma vez um príncipe que, aclamado pelo povo, retornou ao poder.

O príncipe, comovido, designou como sátrapa um nobre muito próximo ao seu povo — ainda que oriundo de outra satrapia.

O sátrapa, amante das letras e das ciências, solicitou emprestado um guarda-armas de um exército vizinho, e o promoveu a capitão.

O capitão, muito moço, atrapalhou-se em alguns de seus jogos estratégicos, e esse pormenor causou algum mal-estar ao Sátrapa e à sua Dama.

Então, Satrapia erige outro comandante de armas — que se vê tolhido em seus exercícios de comando pela presença incômoda do seu antecessor, que não larga o seu posto.

E agora, a Satrapia não consegue desvencilhar-se do guarda-armas — que, apesar de requisitado de volta pelo seu General, tomou gosto por suas novas honrarias, e faz qualquer negócio para permanecer no comando do exército de faz-de-conta, e pensa que, agora, é General.

Eu pensava que Franz Kafka não havia escrito sobre esse tema: ledo engano.

Não me recordo o título, mas ele escreveu crônica magistral acerca da contratação de exércitos mercenários, para controlar os povos — o povo.

Chega um momento em que os exércitos se tornam um estorvo para os governos — e são deixados à margem, descartados como qualquer objeto, da mesma forma que acontece com as pessoas do povo.

E o povo, que antes era espezinhado pelos exércitos a mando dos príncipes, é quem tinha que lidar com os soldados, agora desprovidos de qualquer humanidade.

Kafka, meu velho, seja bem-vindo ao Tocantins.